03-12-2018 - Quinta de S. Francisco

O verdadeiro e o falso azevinho

O verdadeiro e o falso azevinho
Às vezes é fácil confundir plantas muito diferentes, como é o caso do verdadeiro e do falso azevinho. Com a aproximação do Natal, tornou-se oportuno falar desta questão, sobretudo se tivermos em conta a importância que estas plantas têm nas decorações desta época festiva.

Legenda:
O verdadeiro azevinho (Ilex aquifolium, esquerda) e o falso azevinho (Ruscus aculeatus, direita)
O verdadeiro azevinho (Ilex aquifolium) é uma planta da família Aquifoliaceae, é a única planta desta família na Europa, sendo considerada uma relíquia da antiga Laurisilva (florestas subtropicais húmidas do período pré-glaciar). Trata-se de um arbusto ou pequena árvore com até 12 m de altura, com folhas ovais, rígidas, frequentemente onduladas e com dentes espinhosos. É uma planta dioica (como o salgueiro, o loureiro ou o quivi), isto é, existem plantas masculinas (apenas com flores masculinas), produtoras de pólen e plantas femininas (apenas com flores femininas), produtoras de frutos e sementes. Possui pequenos frutos que inicialmente são verdes, ficando vermelhos, quando maduros. O nome Ilex deve-se à semelhança com as folhas da azinheira (Quercus ilex).

Apesar do azevinho ser muito usado nas decorações natalícias, o seu uso remonta ao paganismo celta, onde era usado como símbolo de imortalidade, devido ao facto das folhas persistirem durante todo o ano, mesmo durante o Inverno. Os romanos incorporaram essas crenças nas suas festas do solstício de inverno (Saturnália), que por sua vez foram incorporados no Natal cristão, onde o azevinho representava também a coroa de espinhos (folhas) e o sangue (bagas) de Jesus.

O falso azevinho (Ruscus aculeatus), também conhecido como gilbardeira ou ainda vasculhos, é um pequeno subarbusto dioico, com cerca de 1 m de altura da família Asparagaceae (anteriormente considerada na família Liliaceae), a mesma dos espargos (Asparagus) e do sisal (Agave). Tem a peculiaridade de possuir folhas membranáceas, caducas, de muito pequena dimensão que facilmente passam despercebidas e uns caules modificados em forma de folha, coriáceos e espinhosos (cladódios), que são frequentemente confundidos com verdadeiras folhas e dos quais surgem as flores e frutos. Os frutos são pequenas bagas que ficam vermelhas quando maduras.

Em Portugal a gilbardeira é bastante comum em todo o território e talvez por isso e pela escassez do verdadeiro azevinho, passou a ser usado nas tradições natalícias em substituição deste.

Ambas as plantas têm no entanto estatutos de proteção, no caso do azevinho devido à sua raridade em território nacional e no caso da gilbardeira devido a sua raridade no território não mediterrânico da União Europeia. O azevinho é protegido pelo Decreto-Lei n.º 423/89, de 4 de dezembro que proíbe, o arranque, o corte total ou de ramos, bem como o transporte e venda de plantas espontâneas. A comercialização de azevinhos produzidos em hortofloricultura requer a credenciação junto do ICNF. A gilbardeira por sua vez é protegida pelo Anexo V da Diretiva Habitats (92/43/CEE), que contempla espécies animais e vegetais de interesse comunitário cuja captura ou colheita na natureza e exploração podem ser objeto de medidas de gestão.


Legenda:
Ilex aquifolium nos jardins da Quinta de S. Francisco, aspeto geral e folhas (em cima). Ruscus aculeatus, aspeto geral e frutos que emergem dos cladódios (em baixo).
Muita da confusão com estas duas espécies tão distintas tem origem no belo efeito ornamental que ambas produzem ou seja um profundo contraste do verde-escuro do conjunto com os frutos vermelhos. Apesar de ser cada vez mais comum ver outras plantas ornamentais durante o Natal, como é o caso da planta de Natal ou poinsétia (Euphorbia pulcherrima), não há dúvida que o azevinho continuará a ser um símbolo máximo desta quadra festiva.

Na Quinta de S. Francisco tanto o azevinho como o falso azevinho podem ser facilmente observados nesta altura, convidamo-lo a visitar-nos para saber mais sobre a riqueza botânica que aqui existe.

Um Bom Natal para todos!

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